Gatabaia

"Se procurarmos a verdadeira fonte da dança e nos virarmos para a Natureza verificamos que a dança do futuro é a dança do passado, a dança da eternidade, que sempre foi e será a mesma." Isadora Duncan (1878-1927)

29 junho 2007

Verão


É assim a gosto do Verão, do corpo que desiberna, que floresce para o sol e brisas nocturnas, onde a mente clarifica hipotéticos teoremas resolvidos na areia de dunas bravias e tudo é mais leve e mais simples e mais espontâneo e muito com todo o sentido e as origens apelam a pele e eis que verão ... a gosto!

Verão o afrouxar do verbo da pele da mente
Verão o bronzear dos sentidos nas nuances
Verão a vida malvada esquecida nas praias
Verão o céu de cadeiras esculpidas na areia
Verão lambretas escorrer gelo estupidamente
Verão tremoços inchados de malandragem
Verão água no horizonte de íris semi serrada.
Solarengas mantenhas

27 junho 2007

Condimentos



Aprendi a voar nos passos de dança que fazia nos pés de meus pais, mais propriamente de meu pai, pois esse sim, tinha força para me elevar ao som de todos os sons que faziam dos slows o meu encanto; com a minha mãe aprendi a perícia e arte de pôr em movimento o que a melodia me fazia ao coração. Até ao momento em que era ‘crescida’ que era o mesmo que dizer que já lhes pesava nos pés. Mas da malandragem romântica ao gingado eufórico passando pelo calor do aconchego, todos os temperos misturados brincados e ensinados aos ritmos de mim, fizeram sempre das minhas sensações sentimentos que nunca soube bem palavrear mas que me fazem imensamente felizes e fico contente quando vejo tanta gente a ‘descobrir’ na dança tanta coisa boa que nada mais é senão uma forma de estarmos naturalmente connosco pela e na dança num prelúdio de felicidade.

Mexidas mantenhas

22 junho 2007

Com incidência


Há quem diga que não há coincidências.
Então não sei como partilhe comigo a incidência desta génese que me sinto colada ao paradoxo de mim.
Pela certeza que tenho de nunca vir a ter plena consciência de mim, sou feliz, e por ser uma chatice ter um castelo construirei um mundo cheio de praias com sementes de coqueiros e de goiabeiras e de mangueiras e de todos os cheiros que me correm nas veias.


Há metafísica bastante em não pensar em nada.

O que penso eu do mundo?
Sei lá o que penso do mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso.

Que ideia tenho eu das cousas?
Que opinião tenho sobre as cousa e os efeitos?
Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma
E sobre a criação do Mundo?

Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos
E não pensar. É correr as cortinas
Da minha janela (mas ela não tem cortinas).

O mistério das cousas? Sei lá o que é mistério!
O único mistério é haver quem pense no mistério.
Quem está ao sol e fecha os olhos,
Começa a saber o que é o sol
E a pensar muitas cousas cheias de calor.
Mas abre os olhos e vê o sol,
E já não pode pensar em nada,
Porque a luz do sol vale mais que os pensamentos
De todos os filósofos e de todos os poetas.
A luz do sol não sabe o que faz
E por isso não erra e é comum e boa.

Metafísica? Que metafísica têm aquelas árvores?
A de serem verdes e copadas e de terem ramos
E a de dar frutos na sua hora, o que não nos faz pensar,
A nós, que não sabemos dar por elas.
Mas que melhor metafísica que a delas,
Que é a de não saber para que vivem
Nem saber que o não sabem?

"Constituição íntima das cousas"...
"Sentido íntimo do Universo"...
Tudo isto é falso, tudo isto não quer dizer nada.
É incrível que se possa pensar em cousas dessas.
É como pensar em razões e fins
Quando o começo da manhã está raiando, e pelos lados das árvores
Um valo ouro lustroso vai perdendo a escuridão.

Pensar no sentido íntimo das cousas
É acrescentado, como pensar na saúde
Ou levar um copo à água das fontes.

O único sentido íntimo das cousas
É ela não terem sentido íntimo nenhum.
Não acredito em Deus porque nunca o vi.

Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me, Aqui estou!

(Isto talvez é ridículo aos ouvidos
De quem, por não saber o que é olhar para as cousas,
Não compreende que fala delas
Com o modo de falar que reparar para elas ensina.)

Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e o sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda hora.
E a minha vida é toda uma oração e uma missa.
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.

Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e luar e o sol,
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
Porque, se ele se fez, para eu o ver,
Sol e luar e flores e árvores e montes,
Se ele me aparece como sendo árvores e montes
E luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol.
E por isso eu obedeço-lhe,
(Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?),

Obedeço-lhe a viver, espontaneamente,
Como quem abre os olhos e vê,
E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes
E amo-o sem pensar nele,
E penso-o vendo e ouvindo,
E ando com ele a toda a hora.
Sou um guardador de rebanhos.
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.

Pensar uma flor é vê-las e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.

Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto,
E me deito ao comprido na erva,
Sinto todo meu corpo deitado na realidade
Sei a verdade e sou feliz. a)
Mantenhas embarda

19 junho 2007

Tons de Botões

Butão. Nem sei bem para que serve um botão. Mas que desde sempre os fizeram: de raízes de ossos de madeira até aos nossos dias, fizeram. Portanto é porque são necessários. Mas também é verdade que na minha caixa de costura há assim um compartimento com montanhas deles abandonados e fechados. De todos os feitios e cores com 2 a 4 buracos por onde as linhas deveriam passar a fim de se lhes dar a devida e real utilidade prendendo-os a um qualquer pano ou tecido, atribuir-lhes assim uma casa por onde entrassem e assegurassem que as ‘vergonhas e intimidades’ ficariam longe dos olhares estranhos.

Mas o tecido humano tem também assim os seus butãos da vergonha acantonados e concentrados escondidamente longe do mundo, supõem. E fico eu com muita vergonha. Sem saber o que ando aqui a fazer no meio de tanto de tudo mau. E logo a seguir mal refeita dum Butão vem outro botton dizer-me que sofro de ansiedade de stattus. Ora porra! Que até não tá mal … eu ando é à procura dele nos locais errados. Mas eu ando em que mundo? Que preocupação acrescida … claro que tive pesadelos e afoguei-me num mar de botões assim com água a entrar por buracos com cara de botton escantado. Que canseira !!! Tá visto que acordei com vontade de dormirscansar.

Tons de mantenhas

18 junho 2007

Som e eco



A sombra desfeita por cães azuis ou carneiras mal mortas dormitadas no fundo do suryá em sacudidelas a um imaginário mosquito de olhos esbugalhados ao talento do garcia em fazer daquelas inquietações a sujar ladrilhos com batom de sonhos. Realmente! Estava esquisitamente louca. O paraíso. Assim a nadar num nada de tempos que já não cabiam em lado algum e transbordavam da sieta.

Sonecas mantenhas

14 junho 2007

Entre vales

Intervalos de mim ...
Sou um evadido,
logo que nasci
fecharam-me em mim,
ah, mas eu fugi.
Se a gente se cansa
do mesmo lugar,
do mesmo ser
porque não se cansar?
Minha alma procura-me
mas eu ando a monte,
oxalá que ela
nunca me encontre.
Ser um é cadeia,
Ser eu é não ser,
Viverei fugindo
Mas vivo a valer.
a)
Valentes Mantenhas

12 junho 2007

Arr ai ais



Dia de Santo António amanhã assim hoje noite de barros bebericados e tintos chouriços mordiscados tudo a brincalhar e a saltar.

Fernando Pessoa faria amanhã cento e dezanove anos.

Brincou com letras e pensamentos para nosso deleite.

"Quando vieste da festa,

vinhas cansada e contente,

A minha pergunta é esta:

Foi da festa ou foi da gente?

A quadra é um vaso de flores que o Povo põe à janela da sua alma. Da órbita triste do vaso escuro a graça exilada das flores atreve o seu olhar de alegria. Quem faz quadras portuguesas comunga a alma do povo, humildemente de todos nós e errante dentro de si próprio. Ser intensamente patriótico é, primeiro, valorizar em nós o indivíduo que somos, e fazer o possível por que se valorizem os nossos compatriotas, para que assim a Nação que é a suma viva dos indivíduos que a compõem, e não o amontoado de pedras e areia que compõem o seu território, ou a colecção de palavras separadas ou ligadas de que forma o seu léxico ou a sua gramática — possa orgulhar-se de nós que, porque ela nos criou, somos seus filhos, e seus pais, porque a vamos criando".

Arraiais de mantenhas


11 junho 2007

Feet Me



Impossível letras nesta imagem

consigo apenas recomendar

antes de ais de mim e

de voltar ao humido refrescantemente verde

voar e planar .... já vou longee

{{{{{{Mantenhaaaaaaaaaaaaa}}}}}}

06 junho 2007

Chan Atas


Estoirada. Frustrada. É como fico de cada vez que preciso de procurar e comprar sapatos. Não sei comprar sapatos. Parcimoniosamente olho para eles, eles para mim e sei que não falamos a mesma linguagem. Não gosto de nada e sinto-me mal em todos. ODEIO sapatos. Adoraria assim uma moda de andar descalça. Por vezes faço-o mas é mesmo horrível porque todo mundo torce o nariz. Isto tudo na razão inversa ás malas. ADORO comprar malas. Tenho himalaias de malas, pochetes sacos saquinhos todas as cores e feitios de inverno de verão e de sair e de cerimónia e de praia e de campo ... ufa, sou compulsiva na aquisição deste adorno que não serve de muito, então agora que não as uso. Aboli-as da minha indumentária, imagem, vista … mas continuo a adorá-las!!! As montras de malas são as únicas que me fazem parar ou abrandar e mesmo que no braço de senhoras miúdas e graúdas. E confunde-me profundamente ter meia dúzia de sapatos e duzentas malas. Até já pensei em consultar um técnico em saúde mental para me fazer entender-me (é mesmo assim eheheheheh). Bora ás compras??? De sapatos pois então, a ver se descalço o mundo e enfio tudo nas malas que lá tenho para mandar para o espaço, e depois choverá sapatos e dir-se-á que os Deuses estão loucos.

Sabrinas Mantenhas

05 junho 2007

Dez Hortos



Haja tempo e dinheiro que o leque de oferta dita cultural é descomunal. A injecção é de tal forma profunda e intravenosa que chega aos ossos. E corrói e dói e farta. Ele são espectáculos híbridos, musicais, exposições, teatro, cinema, feiras e tantos e muitos que apetece fugir. Uma panóplia de gentes aos trambolhões e aos encontrões e a gesticular e a falar alto e sempre muito entendidas em tudo, com opiniões decalcadas sei lá de onde a botar faladura para se ouvirem ou ver caras de espanto perante tanta sabedoria. Chega o verão e isto tudo é elevado á enésima potência e eu se calhar vou ouvir Cristo pregar, enquanto as bossas são atestada de cultura e saber. Ai o conhecimento meu Deus, porquê o conhecimento?


Olhando para Lisboa ali tão perto
Lá no alto, de cabelos ao vento
Cristo-Rei foi pregar para o deserto
Mas deixou os camelos em S. Bento

Desertos de mantenhas

01 junho 2007

Arvorando



anda daí vem dançar
em cima deste ladrilho
dançando floreando brincando mais eu
dançando floreando brincando mais ela
és uma rosa amarela …

e não sei muito mais ... mas sei cantarolar e brincar e saltar e pular e asneirar e andar de baloiço e também neste dia que é um xixo meu porque das crianças do mundo não tomo conta. Oiço contar seus direitos e deveres e méritos e ganhos e perdas e créditos todos e choro pianinho de olhos rasos de mim. E por esta inércia e impotência levo zero neste dia de me fazer chorar. Mas não choro porque uma criança não chora. Tomem! tomem!

Baloiços de mantenhas