Gatabaia

"Se procurarmos a verdadeira fonte da dança e nos virarmos para a Natureza verificamos que a dança do futuro é a dança do passado, a dança da eternidade, que sempre foi e será a mesma." Isadora Duncan (1878-1927)

26 julho 2006

Gael


O que dizer a alguém que viaje até Saturno na época das festas, mas que não se aventure na montanha-arménia do Parque de Diversões de Cassini? Como classificar o idiota que, em congresso numa metrópole de Júpiter, não aproveite um momento de pausa para tomar o space-ferry para um dos belos satélites que ainda ostentam a abundância selvagem daquelas hortênsias-mais-senhoras-que-cachopas que não se encontram em mais nenhum arquiempíreo do universo? Podemos ir a Roma e não ver o Papa, não há problema nenhum. Mas será lícito não tirar uma fotografia em frente da Fontana di Anna Gramma, a mulher lendária que inventou o mais antigo hobby do mundo: a profissão? Devemos ser proprietários de um Stradivarius (só um para não rimarmos em demasia), mantendo-o enjaulado na altura do cio quando os telhados são invadidos por um rocio digno de Paganini? Devemos receber um coração, e comê-lo sem requinte? Quando podíamos, com paciência, catar as suas tiladas pevides, uma por uma, e reuni-las depois numa salada vistosa, dessas que prometem uma cor sã num sabor são, e que podem ser comidas entre dois dedos de silêncio … resposta do perguntador!
RiMánaMi

14 julho 2006

Polly Wally


Como Félix. Filics. Félixada fiquei com o voyer de Gal Costa. Não parei o carro para dançá-lo não sei porquê. Acho que apenas por não ter pensado nisso. Ai era menina para fazê-lo sei-o bem mas apenas não foi assim. Lembro-me agora e agora também recinto-me na marginal ao som de voyer a dançá-lo mentalmente ... hã ... foi isso. Dancei sim mas não fisicamente. Mentalmente. Fisicamente fiquei cansada de fazer de vento. Sim esta noite fiz de vento. E o vento deu o seu giro da noite. Nada se lhe deparou ou diferiu de outras tantas giradas pelas mil oitocentas e vinte e cinco últimas noites. De redemoinho entre conchas cresceu a brisa e agora de aragem herdara ser vento de seu trôpego já avô ventania. Não o achava assim tão avô e pensava ser ronha mas dos mais velhos não se discorda nunca e ficara com a pesada herança assim vontade feita.

Não, nada de diferente nas duas, de três, horas que tinha para rodar becos frestas e planaltos. Mares ajoelhados aos espirros dos tempos. Com sorte até tinha espreitado sonos borgas sussurros de sonhos em insónias; até nas apaixonadas vigílias às tempestades. Jurou serem olhos aqueles pensamentos supersónicos, que roçara. Eram olhos, sim. Aquelas lágrimas tempestuosas que hesitou. Gotas maradas que lhe estragaram o giro; como aquela menina estúpida que dizia ao volante do pai bêbado que o vento lhe estragava o penteado. Era o vento era era mas é o pai com o intuito de atingir não sei que risco do conta-quilómetros da vida. É que se parasse estragava o giro que lhe fazia da alma um nocturno lavador do Mundo, tipo chopin, para o repositar no próximo giro que passava às mil oitocentas e vinte e seis noites em diante.


Voyeur,
Eu vou seguindo você, Na sua dança, na sua leveza; Estender Meus olhos sobre você, E assim vou descobrindo a beleza; Colher, No meu cantinho de terra, A flor que nasceu por você. Vem ver Meu coração bater por você. Arder No poro, no pelo, na pele De tudo que saia da sua presença; Doer, Se não responde ao recado, Se não me dá sua correspondência. Quem lê No meu mais íntimo plano Onde é que se esconde você, Vai ver Meu coração bater por você.Vem ver, vem ver Meu coração bater por você.Vem me dar carinho, Vem fazer lelê, Vem me dar um cafuné, Me fazer um chazinho. Corda que amarrou, cobra que picou, Sede não secou, alma desandou. E leia na minha mão O seu nome na linha da vida Que corre atrás de você. Vem ver, vem ver Meu coração bater por você. Voyer, Gal Costa

Talvez pelo sonho no vento da marginal em mim
Talvez na exacta curva Vida.

M'DançáNaMi

05 julho 2006

In Depende da ânsia


Tudo é relativo … dizem. Quem? Todos. Mas não deixo de concordar que tudo é relativo na vida e na morte, na tempestade e na abundância, na tristeza e na felicidade, e cabe cá tudo! Acho, sim, que depende é da ânsia com que se vivem as coisas, com que se relativizam, ou não, as coisas. Tenho tido muitas felicidades em infelicidades alheias e vice versa. Faz parte, dirão. Concordo.

Lembro-me da minha infelicidade na felicidade de um dia ver um País, que digo meu, ter uma Constituição, um Hino e uma Bandeira, próprias.

Do meu desespero por ter sido arrancada de ‘nha terra’ para uma outra onde supostamente só se passavam férias.

Do meu desespero por não ser voz activa num assunto de foro familiar.

Do meu desespero por trazer uma mãe 'pa môrrê longe’.

Do meu desespero por sentir ser ‘persona non grata’ lá e cá.

Lá, politicamente seria correcto, à época, haver uma única corrente de pensamento e ninguém ousasse contradizer. Cá, era politicamente incorrecto demonstrar, abertamente, uma animosidade e superioridade civilizacional. E convivemos todos. E sobrevivemos todos. Volvidos 31 anos muito pouco mudou nas nossas mentalidades. Mentalidade. A Idade mental da humanidade ultrapassará os dez anos? E terá tendência a crescer a longevidade da idade mental da humanidade? E seremos sempre assim tão egoístas. E teremos sempre umbigo? para nos deliciarmos a olhar para ele?

E mantive esta ânsia de dançar sempre e muito. E vivo a minha terra com os pés descalços sempre que podem transpirados e sedentos de ritmos todos que os façam vibrar e apartar de tudo o que não seja Eu. Fala o egoísmo!