Gatabaia

"Se procurarmos a verdadeira fonte da dança e nos virarmos para a Natureza verificamos que a dança do futuro é a dança do passado, a dança da eternidade, que sempre foi e será a mesma." Isadora Duncan (1878-1927)

21 outubro 2006

Acção 11 - Corr(e)Ida




























Se houvesse apenas uma única verdade, não seria possível pintar cem pinturas do mesmo tema.
Picasso vivificou a crueldade da natureza e a sublimação na beleza e na arte como quando o touro com os seus cornos abre a porta da barriga do cavalo e cospe as entranhas ...
como flores que enchem a arena,
como a areia a cair de relógios.
A dor escrita em letras grandes em toda a arena, e o fino e delicado banquete da morte.
O cheiro o fedor e o horror das entranhas explodindo nas mãos do assassino ...... a festa do amor de toda uma raça que mergulha a sua mão nas entranhas e procura o coração do qual a vida do touro se esvai.
Terminou a corrida porque os touros também se abatem.

Mornas Mantenhas

20 outubro 2006

Acção 10 - InAcção



Ninguém pôe limites ao vento: nem

os moinhos de vento, nem Dom Quixote. Mas

um cavalo corre à desfilada por dentro do vento;

e a sua crina enfunada transforma o cavalo

num barco louco, de velas abertas como as velas

do moinho. É então

que Dom Quixote se senta na proa do barco. A sua lança

rasga os flancos do vento, e uma chuva de sangue

abre um sulco na terra por onde passaram

os ventos e os cavalos de inverno.

Nunca soube distinguir entre um barco

e um cavalo. A única diferença está nas ondas que

empurram o barco e nos quixotes que empurram

os cavalos. O espírito de vento habita-os: as ondas relincham

com uma alegria de nortada; e os quixotes cravam as esporas

nas velas do moinho pensando que são os flancos

do cavalo. É então

que o moinho se ergue com um relincho

de barco; e as suas patas cravam-se nas ondas, como se

o moinho fosse um barco equestre.

Um mar de quixotes alastra pela terra. Os cavalos

fogem à sua passagem; os ventos curvam-se perante

as suas ondas. Entrego-lhes a dulcineia branca de todos os sonhos

do vento. Os seus seios que incham com os ventos

do sul; o seu ventre por onde sopram os ventos circulares

dos trópicos. A jovem dulcineia que todos os moinhos

pussuíram com os seus braços de vento; a dulcineia enlouquecida

como as éguas batidas pelas velas dos moinhos. Os seus olhos

que empalidecem com a agonia de Dom Quixote.

O amor de quixote e dulcineia é o mar

em que esses barcos naufragam, os recifes em que as velas

do moinho se rasgam, o muro em que se precipita

uma desfilada de cavalos.

Uma bátega de pássaros

no coração da terra.

In Raptos de Nuno Júdice

Mantenhas

19 outubro 2006

Acção 9 - Nim PenaL(e)iZe












Chove. Pouco. O Rio, naufragado na marginal, persegue carros casas barcos sonhos.


O jornal diz-me que a proposta de realização do referendo sobre o aborto é hoje aprovada. Que o CDS vota contra, mas, quer liberalização a substituir despenalização, na pergunta chave que nos levará a deixar, ou não, que as mulheres decidam. Que lhes importa se vão votar contra e dizer não? Uma provém de Lei outra de Pena. Tenho pena!


A maternidade é o momento glorioso, poderoso e gratificante que a Natureza ofertou à Mulher, mas, todos sabemos que o amor também mata, que o egoísmo os sonhos a esperança os medos o futuro são colocados num instante presente e são geridos, perigosamente, a contra relógio. A mulher não precisa de ser penalizada ou legislada ou apontada ou, ou ... fá-lo por si e a si, algures em qualquer momento do processo, quando não para sempre. Proporcionem-lhes qualidade de Vida.


O Aborto é pessoal e intransmissível. Não é uma bandeira é, sempre e por si só, um sofrimento demasiado íntimo.


Chove!

Mantenhas

18 outubro 2006

Acção 8 - Rap Atada



  • A mulher é mais bela do que a deusa:
    a
    pureza da pele, a perfeição dos braços
    e dos seios, tudo o que se pode
    aproximar
    da ideia de arquétipo, fixou-se no seu
    corpo, Por isso, os
    ventos a envolvem,
    arrastam-na para as nuvens,
    gozam o instante que ela
    lhes oferece.

    O prazer, no entanto, não é eterno. Dura
    o espaço do
    amor. Projecta-se
    na suas alegrias, desvanece-se como a luz
    submersa
    pela sombra do espírito. É
    verdade que as nuvens têm outra significação,
    quando pensamos que existe, para além delas,
    o azul; e que Psique poderá
    dançar
    contra esse fundo de vida eterna.

    Mas o que é real é o
    presente: estes
    ventos que trouxeram o céu de chumbo,
    os dias de
    inverno, e levaram consigo
    a mais divina das mortais.

    in Raptos de
    Nuno Júdice

    Mantenhas

16 outubro 2006

Acção 7 - K'.O. Roriz









Fim de semana e o mundo não desacelerou.

Tudo aconteceu, só não desabou, mas trovejou e ribombou e também choviscou ...

Fiz de Winnie, a patética, a que ali está, ilusoriamente, resistindo à passagem do tempo nos 'dias felizes' que Beckett afiançou-me 'daqui em diante' pela mão da Olguinha.

Mantenhas molhadas

11 outubro 2006

Acção 6 - Extra Ordinário

No comments ...



10 outubro 2006

Acção 5 - EmPontas














Eu queria mais altas as estrelas,
mais largo o espaço, o Sol mais criador,
mais refulgente a Lua, o mar maior,
mais cavadas as ondas e mais belas ...

Florbela Espanca

Mantenhas

09 outubro 2006

Acção 4 - de Graças
















Adagas cujas jóias velhas galas...
Opalesci amar-me entre mãos raras,
E fluido a febres entre um lembrar de aras,
O convés sem ninguém cheio de malas...

O íntimo silêncio das opalas
Conduz orientes até jóias caras,
E o meu anseio vai nas rotas claras
De um grande sonho cheio de ócio e salas...

Passa o cortejo imperial, e ao longe
O povo só pelo cessar das lanças
Sabe que passa o seu tirano, e estruge

Sua ovação, e erguem as crianças
Mas o teclado as tuas mãos pararam
E indefinidamente repousaram...

Fernando Pessoa

06 outubro 2006

Acção 3 - Mental Idade


















Repescada ás zero horas e pouco do dia 5 Outubro, vi-me na bancada das suas comemorações. Três motivos fortes: ir ver e ouvir ao vivo o meu Presidente, ir na qualidade de convidada e ir dentro do vestido onde não entrava há 3 anos, por não caber nele.As cerimónias protocolares sempre foram uma grande chatice, diz toda a gente, e eu, nunca tinha podido desmentir.

Mas cá está: Adorei. Pela simplicidade, sobriedade, elegância, pela atenção dada à população ao trazer a Cerimónia do Salão Nobre dos Paços do Concelho para o recinto do Pelourinho – adorei.

Carreguei baterias para mais um ano, data em que certamente Cavaco nos dará outra lição de respeito pelos portugueses transpirando seriedade, competência e responsabilidade.

Apanhei-me, perdida na voz grave e acertiva do discurso de Cavaco Silva, a pensar que talvez não seja necessário inculcar ao Gonçalo a necessidade de ir para fora de Portugual para se sentir feliz e realizado. Será melhor alertá-lo para que tenha uma atitude e mentalidade adultas e responsáveis ... em Portugal.

Apraz-me ler, ver e ouvir as actuais notícias sobre este Homem como me entristeceu ler, ver e ouvir as de anos idos sobre este mesmo Homem.

E pairo bailando sobre a raça Humana.

Mantenhas

04 outubro 2006

Acção 2 - Mond (oc) ego


'Está nerviosa y atenta. Gime en un amago de una lengua imposible, mientras habla con Sonia, su mediadora con el mundo. La necesita como traductora para hablar con cualquiera que no domine el lenguaje dactilológico de los sordociegos, distinto de los signos de los sordos con visión. A cada letra del alfabeto corresponde una postura de la mano del emisor y las palabras deben deletrearse porque no existen posturas especiales que expresen ideas o sentencias. Un simple ‘buenos días’ es
‘b-u-e-n-o-s-d-í-a-s’, diez movimientos de mano.'

Aqui tens porque é que eu, nesta vista tirada do Castelo de São Jorge, me sinto assim distante, quase alheado. Talvez porque daqui não te ouço, cidade. Porque não te respiro os intentos nem te cheiro. Numa palavra, porque me falta cumplicidade… diz José Cardoso Pires no seu livro de bordo.

Cegos cegas cegadas cagadas catalogadas por cágados em cagagéssimos de segundo.

Seco o mundo cego.

Mantenhas

03 outubro 2006

Acção 1 - Happy Curo


Sim, contrariamente a Nietszche que andou ás voltas com a dor, isto do prazer tem tudo o que se lhe possa dizer, pois o prazer ligo-o ao bem e a dor ao mal.
Danço assim mais na cura da alma pelo prazer de tudo: as naturais e necessárias, assim seja, dormir comer extravagantemente, prazeres de paixão em sentimentos impensados e rebolidos, ou as mais complexas e existênciais, assim sejam elas viver e ser feliz. As que realmente se nos apoderam a alma.
O búzilios constrói-se-me no:
Nenhum prazer é em si um mal, mas as coisas que nos proporcionam certos prazeres acarretam sofrimentos às vezes maiores que os próprios prazeres” (EPICURO in Máximas Fundamentais).
É que o prazer nem sempre atrai o que há de melhor, do mesmo modo que a dor também nem sempre atrai o pior.
Há com cada prazer que nos acarreta dores!!!
Mas há cada dor que transporta felicidades mil ...
Tomem-me o exemplo:
Saí nas asas da dor e regresso amparada na felicidade.
O mutável da coisa torna-se-me interessante. Nada é permanente.
Mantenhas