Gatabaia

"Se procurarmos a verdadeira fonte da dança e nos virarmos para a Natureza verificamos que a dança do futuro é a dança do passado, a dança da eternidade, que sempre foi e será a mesma." Isadora Duncan (1878-1927)

13 fevereiro 2007

Semi-confusa


Tenho um nó na garganta.
Em vão tentar desfazê-lo.
Derreter-se-á há medida em que o tempo escorrer.
Não consegui ainda pôr em consonância os neurónios e o coração. No meu egoísmo a morte magoa-me. E quero, em verdade, sentir a morte como a penso. Mas é difícil. Muito difícil para já.
Virgílio Ferreira ensinou-me que ‘Uma verdade só o é quando sentida - não quando apenas entendida. Ficamos gratos a quem no-la demonstra para nos justificarmos como humanos perante os outros homens e, entre eles, nós mesmos. Mas a força dessa verdade está na força irrecusável com que nos afirmamos, quem somos, antes de sabermos porquê’.
Sei o que devo sentir, mas não o consigo, ainda. E sei do meu egoísmo quando me acerco para reconfortá-lo quando quero conforto, e adivinha-me e salda-me comigo.
Bem-haja Monsenhor Melo.
Até Sempre na Paz do Senhor.

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Agostinho da Silva. Celebraria hoje o seu 101º. Aniversário. Lembro-o muitas vezes. Fala-me sempre como segunda singular.
‘A primeira condição para libertar os outros é libertar-se a si próprio; quem apareça manchado de superstição ou de fanatismo ou incapaz de separar e distinguir ou dominado pelos sentimentos e impulsos, não o tomarei eu como guia do povo; antes de tudo uma clara inteligência, eternamente crítica, senhora do mundo e destruidora das esfinges; banirá do seu campo a histeria e a retórica; e substituirá a musa trágica por Platão e os geómetras.
Hei-de vê-lo depois de despido de egoísmo, atente somente aos motivos gerais; o seu bem será sempre o bem alheio; terá como inferior o que se deleita na alegria pessoal e não põe sobre tudo o serviço dos outros; à sua felicidade nada falta senão a felicidade de todos; esquecido de si, batalhará, enquanto lhe restar um alento, para destruir a ignorância e a miséria que impedem os seus irmãos de percorrer a ampla estrada em que ele marcha.
Nenhuma vontade de domínio; mandar é do mundo das aparências, tornar melhor de um sólido universo de verdades; se tiver algum poder somente o veja como um indício de que estão ainda muito baixos os homens que lho dão; incite-o o sentir-se superior a mais nobre e rude esforço para que se esbatam e percam as diferenças; não aproveite para mostrar a sua força a fraqueza dos outros; o bom lutador deseja que o combatam mais rijos lutadores.
Será grato aos contrários, mesmo aos que vêm armados da calúnia e da injúria; compassivo da inferioridade que demonstram fará tudo que puder para que melhorem e se elevem; responderá à mentira com a verdade e ao ódio com o bem; tenazmente se recusará a entrar nos caminhos tortuosos; se o conseguirem abater, tocará com humildade a terra a que o lançaram, descobrirá sempre que do seu lado esteve o erro e de novo terá forças para a luta; e se o aplaudirem pense logo que houve um erro também.’Agostinho da Silva, in 'Considerações e Outros Textos'’

Montanhas de mantenhas