Magusto Augusto
Neste tempo de vindima, em que o frio se ensaia, as castanhas pedem assadura e a água pé apetece e cresce em água no alambique do tempo, gostei de ouvir o Pedro dizer do alto dos seus 16 anos que tinha ido à vindima por ter pena de ver as uvas definharem e, com orgulho na sabedoria aprendida com o avô, ensinar-me o que a geada do mês passado tinha feito às vinhas e por isso a apanha das uvas tinha de ser rápida e eficaz (palavras dele). Fico assim tão contente por saber desta juventude ávida destes crescimentos em convívios e ancestrais ensinamentos que só são feitos pela pele e pelo suor onde os livros apenas servem para embrulho farrusco das cascas.
'Éramos três esquivos, no escuro das vindimas,
com o mar nos olhos, vinho de mosto nas mãos,
quando o sal dos bosques o rego lança fumo
e um choro de criança rebrilha no cerrado.
Éramos dois, erguidos na rocha das estrelas,
o coração sangrando, sem uma funda e dados,
quinado o ermo se queima e solução os breus
nos charcos latentes de canteiros de faróis.
Era só eu, umbroso entre sombras já velhas,
a figurar uma outra sombra no varadouro
onde marinha, entre redes estendidas,
o sono de todos em poentes febris.
Éramos nenhum, entre folhas de treva
quando o medo chove nas pétalas das poças
e o outro, o puro, livre de velas e de leme
vidente, zarpa, rumo ao instante claro. a)
Destiladas Mantenhas
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