Gatabaia

"Se procurarmos a verdadeira fonte da dança e nos virarmos para a Natureza verificamos que a dança do futuro é a dança do passado, a dança da eternidade, que sempre foi e será a mesma." Isadora Duncan (1878-1927)

16 outubro 2007

Magusto Augusto



Neste tempo de vindima, em que o frio se ensaia, as castanhas pedem assadura e a água pé apetece e cresce em água no alambique do tempo, gostei de ouvir o Pedro dizer do alto dos seus 16 anos que tinha ido à vindima por ter pena de ver as uvas definharem e, com orgulho na sabedoria aprendida com o avô, ensinar-me o que a geada do mês passado tinha feito às vinhas e por isso a apanha das uvas tinha de ser rápida e eficaz (palavras dele). Fico assim tão contente por saber desta juventude ávida destes crescimentos em convívios e ancestrais ensinamentos que só são feitos pela pele e pelo suor onde os livros apenas servem para embrulho farrusco das cascas.

'Éramos três esquivos, no escuro das vindimas,

com o mar nos olhos, vinho de mosto nas mãos,

quando o sal dos bosques o rego lança fumo

e um choro de criança rebrilha no cerrado.

Éramos dois, erguidos na rocha das estrelas,

o coração sangrando, sem uma funda e dados,

quinado o ermo se queima e solução os breus

nos charcos latentes de canteiros de faróis.

Era só eu, umbroso entre sombras já velhas,

a figurar uma outra sombra no varadouro

onde marinha, entre redes estendidas,

o sono de todos em poentes febris.

Éramos nenhum, entre folhas de treva

quando o medo chove nas pétalas das poças

e o outro, o puro, livre de velas e de leme

vidente, zarpa, rumo ao instante claro. a)

Destiladas Mantenhas